Introdução a Urologia

Embora pareça clara a correlação do HPV com o câncer genital feminino, ela ainda não está perfeitamente estabelecida em relação a tumores da genitália externa masculina. O câncer peniano é uma neoplasia rara em nações desenvolvidas, correspondendo a cerca de 0,4% dos tumores no homem. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, as incidências variam de 1% a 4% nas regiões Sul e Sudeste e de 5% a 16% no Norte e Nordeste.

Ao contrário do que ocorre na mulher, que apresenta a zona de transformação do colo uterino com predisposição acentuadamente maior para câncer do que em outras áreas, na genitália masculina não há relação entre a localização da infecção pelo HPV e maior predisposição para a neoplasia.

Vários estudos evidenciam que a infecção pelo papilomavírus humano (HPV) se apresenta como verruga visível em aproximadamente 20% dos casos.

A grande maioria dos casos de infecção genital pelo HPV em ambos os sexos é subclínica ou latente, não detectável à vista desarmada, e para o seu diagnóstico são necessários exames como a peniscopia, que permite evidenciar as lesões suspeitas e possibilita a coleta de material para estudo histológico e biologia molecular.

Já sabemos da importância da peniscopia como método de alta sensibilidade para identificar lesões suspeitas, e da biologia molecular como método de alta especificidade para confirmar a presença do DNA do HPV no local suspeito; sabemos, também, que o estudo histológico isoladamente pode resultar em superdiagnóstico.

É alta a incidência de câncer de colo uterino, considerado a segunda neoplasia mais freqüente na mulher, e está bem estabelecida a associação entre o HPV e este tipo de câncer, que é observada em mais de 95% dos casos. No entanto, a incidência de câncer peniano, bem como a sua associação com HPV, é bem menor, referindo-se a 30%- 50% dos casos. Deste modo, o homem é hoje considerado portador assintomático do vírus.

Estudos recentes evidenciam a importância do sistema imunológico na contaminação, na recidiva e eliminação deste vírus. Dessa maneira, podemos entender por que algumas pessoas têm maior predisposição que outras, o que justifica a presença deste vírus em ambos os parceiros em apenas 40% dos casos.

Atualmente, alguns estudos evidenciam que o tratamento do parceiro não interfere na evolução de sua parceira. Por esse motivo, o homem deve ser esquecido? Esse parceiro não deve ser avaliado?

Não devemos nos esquecer de que a infecção pelo HPV é a DST mais freqüente atualmente, e o homem deve ser avaliado de maneira mais ampla, não apenas como o parceiro de uma mulher infectada, ou que seu tratamento possa interferir na melhora de sua parceira; mas devemos avaliar os homens como portadores de uma infecção muito freqüente, e que podem estar transmitindo-a silenciosamente.

Sabemos que existem várias situações que predispõem o homem mais freqüentemente para a infecção por esse vírus, tais como:

  1. presença da infecção em sua parceira;
  2. excesso de prepúcio e fimose;
  3. balanite de repetição;
  4. multiplicidade de parceiras;
  5. algumas DST (uretrite, etc.).

Dessa maneira, ficam as seguintes dúvidas: quem é o homem suspeito de apresentar a infecção pelo HPV na população? Existe um grupo de risco? Quando devemos indicar a peniscopia?

Com o intuito de esclarecer estas questões, foi realizado um estudo para identificar provável grupo de risco em pacientes com suspeita de apresentar este tipo de infecção (Carvalho, 2002).

Nesse estudo de caráter prospectivo foram analisados os motivos pelos quais os pacientes procuraram uma clínica urológica e indicada a peniscopia, com o intuito de avaliar a existência de grupo de risco para HPV e a possibilidade de estabelecer melhor as indicações de peniscopia.

Esse estudo nos permitiu concluir que:

  1. a ausência de lesão visível ou outra condição associada ao HPV não deve excluir a indicação de pesquisar o vírus;
  2. existem muitos homens infectados sem diagnóstico, pois a maioria dos casos de HPV está no grupo de outras doenças (32,5%).

Resumindo, a pesquisa da infecção pelo HPV deve ser realizada, tanto nos parceiros de mulheres com HPV, como nos homens com suspeita de estarem infectados por esse vírus.